20 de junho de 2012

Moviola Incandescente | Plano Sequência





Plano sequência! Vamos lá!

Hoje vamos falar de plano sequência! Mas, afinal, o que é isso?


Bem, o plano sequência é um artifício cinematográfico e, em teoria, é quando filma-se uma cena ininterruptamente. Sem cortes.



O plano sequência existe desde que aconteceu a primeira filmagem cinematográfica no planeta. Isso acaba sendo um pouco contraditório, a princípio, já que os filmes eram feitos sem cortes. Um dos primeiros registros fílmicos, como por exemplo, A chegada na Estação de Ciotat e A Saída dos Trabalhadores da Fábrica (e isso é tudo que falarei sobre esses filmes, já que haverá um vídeo explicativo sobre isso no futuro) denotam o que quero dizer. Já que a câmera ficava parada, e não havia um desligamento da mesma para posicioná-la em outro local para continuar a cena, acaba sendo, nada mais nada menos, do que um grande plano sequência do início ao fim. Porém, não considero, ainda, chamar isso de plano sequência já que, em tese, ainda não havia sido promulgado uma teoria sobre isso, e ainda mais importante, não havia chance de escolha para isso, ou seja, uma intenção.



Um dos primeiros teóricos a falar sobre plano sequência, suas intenções e definição é Jacques Aumont. Escreveu na famosa Cahiers du Cinéma. Por sua vez, um dos primeiros filmes que foi percebido e se fez necessário um estudo aprofundado de Plano Sequência e que a intenção, agora, era fazer isso de forma com que houvesse uma preocupação com a narrativa foi em Cidadão Kane, na cena em que os pais do pequeno Kane discutem com o homem que quer adotá-lo, detalhes sobre esse acontecimento.



Outro filme bem curioso e que também não se pode fazer ausente em uma discussão sobre Plano Sequência, é o Festim Diabólico (ROPE, do Hitchcock) onde a intenção real era rodar o filme inteiro sem cortes. O que impossibilitou essa façanha foi apenas o tamanho dos rolos de filmagem que, na época, permitiam cerca de 11 minutos de filmagem. O que aconteceu, então, foi que Alfred Hitchcock fez o filme com a menor quantidade de cortes possíveis, o que em sua maioria, acabam passando por invisíveis ao espectador.



Jacques Aumont: “O cinema não é o filme. Cinema é um modo de apreensão e da visão da realidade, comparável à imaginação. O filme é uma obra finita, mostrando as coisas e interpretando-as.”
Entendido o que é, como se faz e quem fez, surge a pergunta: para que serve fazer um plano sequência? É impossível denotar um exemplo genérico de intenções que caiba em todos os filmes já feitos e que ainda o serão na história dos filmes do planeta Terra. No entanto, o mais próximo que podemos tentar chegar, é que o plano sequência derruba a barreira metafísica da realidade imposta pela tela do cinema. Pensemos: quando estamos vendo um filme, totalmente imerso àquela história proposta na tela e, de uma forma ou de outra, submissos à ela, um plano sequência ali (bem feito, bem estruturado e usado de forma consciente) traduz a mesma ideia que um documentário o faz. Não que não haja “manipulação do real” em um documentário. Porém, uma ação sem cortes, traduz naturalidade.



O trailer da semana é de “Corações Sujos“.

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