8 de abril de 2013

Cinema Nacional I Sérgio Bianchi


A Sala 36

Sérgio Bianchi
        No dia 04 de abril estive sobre uma dúvida cruel entre voltar para casa e assistir alguns dos meus filmes preferidos, ou viajar até o Campus de Uvaranas (entenda que literalmente é longe a região onde moro do Campus de Uvaranas da UEPG), com o objetivo de assistir os filmes de um artista nascido em Ponta Grossa com exibição pública. Enquanto mantive essa dúvida de repente me deparei na sala 36 no bloco de Artes Visuais da Universidade Estadual de Ponta Grossa, para assistir uma sessão de curtas metragens de Sérgio Bianchi. Então entrei numa sala de 40 lugares com apenas 6 cadeiras ocupadas até o inicio da sessão. Desculpe ao leitor por expor sobre minha relação com a sala de cinema sei que não é digno expor sobre essa situação no entanto não é por descaso, mas apenas uma apropriação da cena. Estive triste momentaneamente por estar em  uma sala tão grande vendo filmes tão restrito ao público local, não sei se há explicação para a falta de comparecimento mas realmente o pessoal da organização está de parabéns por trazer está coleção de um artista nascido na cidade.
          Quero declarar minhas sinceras desculpas, ao nosso leitor por não escrever sobre um cineasta paranaense e com tantas páginas a se falar e tanto para se apreciar. Declaro que através desta crítica tentarei me redimir comentando sobre suas obras e estilos do multiartista do audiovisual, Sérgio Bianchi.
"Segunda Besta"
 Amostra teve apresentação de 3 curtas: Omnibus (1972) ; Segunda Besta (1977) ; Divina Previdência (1983); e um média metragem, Mato Eles? (1982). Obras raras do cenário nacional, os dois primeiros curtas foram realizados enquanto Bianchi estava no curso de Audiovisual da Escola de Comunicações e Artes de São Paulo (ECA – USP). Nos dois primeiros curtas percebe-se uma aproximação com a Nouvelle Vague*, até pelo período em que o Brasil vivia no Cinema Novo. Nesse momento há criação de uma corrente de cinema autor, muito distante do que a crítica identificou nos filmes de Bianchi como “Raiva Lúcida”, até por suas obras ele deve não ser enquadro em nenhuma corrente quanto temos um artista mais multifacetado e que usa de diversas correntes para expor suas ideias. Voltando aos curtas metragens temos obras realizadas em película P&B**  iguais a maior parte dos filmes da Nouvelle Vague,  e todos os planos feitos à mão e com alguns momentos em que o ator olha diretamente para a câmera em  “Omnibus” e “Segunda Besta”. Também nesses curtas não há nenhuma fala dos atores em cena apenas uma trilha sonora para despertar uma nova sensação no espectador. As imagens voltam-se, a uma estética provocativa e dramática.
Curta Metragem - "Divina Previdência"
No terceiro curta apresentado “Divina Previdência” tem talvez uma evolução da produção cinematográfica de Sergio Bianchi com um filme que demonstra toda a sua fase da “Raiva Lúcida”, porém quebra essa linearidade do cinema-autor, ao começar pela realização em película colorida e com mais cenas de humor com um final metalinguístico cinematográfico onde o personagem principal, Antonio José da Silva suicida-se na cadeira de uma sala de cinema enquanto os atores do filme da sessão conversam com ele. Bianchi sempre foi um cineasta muito elogiado pela crítica nacional no último filme apresentado na sessão do dia 04, “Mato Eles?” é um vídeo documentário sobre as tribos indígenas do sudoeste do Paraná e a extração de madeira na região. Este último vídeo em especial está muito próximo dos documentários experimentais realizados pela Casa de Cinema de Porto Alegre nos anos 90.
Documentário - "Mato Elles" 
Mesmo anterior aos documentários da Casa de Cinema de Porto Alegre, Bianchi trabalha as cenas com certa dose de humor mesclando ficção com documentário, o que foi uma tendência nos últimos documentários apresentados no XXV Festival Internacional de Documentários de Amsterdã ***. A técnica mesclada de Bianchi também pode estar relacionada com a região onde nasceu, pois os Campos Gerais foi identificado por Darci Ribeiro**** como a linha de convergência entre o Brasil Caipira e o Brasil Sulista *****. Então através da obra apresentada vemos a proximidade de Bianchi com circuito do Cinema Novo com Glauber Rocha, Cacá Diegues e Arnaldo Jabor e também do Cinema Experimental sulista com Carlos Reichenbach e a Casa de Cinema de Porto Alegre. Mais que um cineasta, Bianchi ainda e o maior artista multifacetado dessa mistura conhecida como Brasil.

* Movimento artístico cinematográfico francês da década de 60, entre seus principais autores estão Jean Luc-Godard, François Truffaut e Robert Bresson.

**  Película em preto-branco.

***  O IDFA (International Documentary Film Festival Amsterdam),  maior festival de documentário do mundo e completou 25 anos em 2012.

**** Antropólogo, escritor e político brasileiro.

***** "O Povo Brasileiro"  obra de Darci Ribeiro, que explora as formações sociais e culturais no Brasil. Disponível em vídeo no Youtube ou em livro.