A Bilheteria: Formação de uma Universidade Pública ajuda na escolha de temas polêmicos e que envolvem minorias?
Daniel Ribeiro: Não acho que o fato da universidade ser pública influencie tanto na escolha de temas. Existe uma diversidade enorme de alunos tanto nas escolas públicas quanto nas privadas, então sinto que os temas surgem mais das experiências pessoais do que do ambiente no qual elas se formaram.
AB: Seu primeiro curta foi rodado com apoio da Lei Rouanet. Como foi conseguir o apoio e quão importante foi esse apoio para sua carreira?
Ribeiro: O roteiro do Café com Leite, meu primeiro filme, venceu um edital de curtas metragens da Petrobras. Sem esse edital, o filme certamente não seria realizado. Então esse apoio foi fundamental para a minha carreira. O meu segundo filme foi feito com o apoio do edital do Ministério da Cultura. Esses editais são essenciais na realização de um grande número de curtas brasileiros, permitindo que novos realizadores possam praticar e experimentar.
AB: Você já ganhou diversas premiações com seus curtas. Qual é a que mais emocionou? E qual a foi a mais surpreendente?
Ribeiro: O Urso de Cristal no Festival de Berlim foi o mais emocionante e surpreendente. Foi o primeiro festival internacional que o filme participou e é um dos mais importantes que existe. Nunca imaginamos que iríamos ganhar. Só de ser selecionado já foi surpreendente o bastante.
AB: Café com leite tem 13 mil views, já “Eu não quero voltar sozinho” está quase chegando a 1 milhão. Ao que se dá essa evolução?
Ribeiro: Na verdade, o Café com Leite tem mais de um milhão de vizualizações. No nosso canal, verá que temos ele em várias versões (primeiro colocamos dividido em partes quando o YouTube não deixava vídeos maiores que 10 minutos, depois colocamos ele inteiro e depois inteiro em alta qualidade). O "Eu Não Quero Voltar Sozinho" já foi colocado inteiro em alta qualidade, então as visualizações estão unificadas. De qualquer maneira, o Eu Não Quero Voltar Sozinho atinge um público adolescente que se identifica com mais intensidade, pois muitos estão passando por uma situação parecida, vivendo a primeira paixão, descobrindo sentimentos novos. E adolescentes têm o hábito de postar vídeos em twitter e facebook, o que ajuda a divulgar o filme.
AB: Fazer um filme com a temática homossexual e adolescentes é algo bem forte. Ficou com medo de possíveis repreensões da parte mais conservadora da sociedade?
Ribeiro: Apesar de parecer um tema forte, a adolescencia e a homossexualidade possuem uma relação muito grande e natural entre si, pois é neste momento da vida que as pessoas descobrem sua orientação sexual. O filme tenta criar uma história que revela o quão natural é a descoberta da sexualidade. Assim, até quem é conservador pode tentar enxergar de uma maneira diferente.
AB: Como você recebeu a censura do acre? E como você entendeu a motivação religiosa por trás da censura?
Ribeiro: Foi frustrante, porque é difícil imaginar que ainda hoje algo possa ser censurado. Mas foi importante para entender o quão importante é esse tipo de filme. Se ele está incomodando, é porque faz alguma diferença e pode provocar mudanças. No fim, acabou sendo estimulante para a realização de novas histórias semelhantes.
AB: Você chegou a conversar com alguém do estado sobre o assunto?
Ribeiro: Falei com o pessoal que organizava o projeto e eles falaram que realmente a pressão foi grande.
AB: Quais são seus próximos projetos e quais as principais dificuldades para fazer cinema no Brasil?
Ribeiro: Atualmente estamos preparando o longa metragem baseado no Eu Não Quero Voltar Sozinho. Se tudo seguir como planejado, filmamos no final do ano. A maior dificuldade é captar recursos pra fazer filme, pois é muito caro e demorado.
AB: Deixe uma mensagem para seus fãs, para quem ainda não viu seus curtas e para aqueles que gostariam de, no futuro, se tornar diretor como você.
Ribeiro: Persistência e boa sorte!
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