Tarantino não inovou no quesito
sensualidade + terror, mas com toda a certeza posso dizer que inovou na questão
de deixar um filme, rotulado como trash,
bom. Death Proof é sobre um ex-dublê
que possui um carro possante exclusivo para ser usado na profissão, um carro “à
prova de morte”. Equipado com o vantajoso veículo, ao invés de usá-lo para automutilação
ou para aventuras radicais, o Stuntman
Mike (Kurt Russel), como é
chamado, prefere perseguir sensuais e lindas jovens até a morte, literalmente.
O primeiro grupo de meninas, as azaradas, devo assim dizer, se deu mal, já
quanto ao segundo, deu ao “cara-mal” o que merecia.
A “equipe sensualidade” de
Quentin Tarantino é formada por Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Sydney Tamija
Poitier, Tracie Thoms, Rose McGowan, Jordan Ladd, Mary Elizabeth Winstead,
Marcy Harriell e a simpática Zoe Bell, dublê na vida real, interpretando nada
mais nada menos do que... ela mesma.
O roteiro foi minuciosamente manipulado por Tarantino, garantiu ao filme uma boa reputação e crítica. O filme tem um ritmo adolescente, rápido; a última perseguição tem um toque de Velozes e Furiosos (críticas à parte), pois consegue deixar o telespectador grudado na tela, na expectativa, tenso.
Se comparadas ao Resevoir Dogs as meninas de Death Proof não deixam a desejar, é
claro que dessa vez o grupo seletivo faz parte do time dos “mocinhos”, ou
deveria dizer mocinhas? E moças apimentadas, não encarnadas no corpo de loira,
indefesa, inocente e com, necessariamente, partes do corpo avantajadas. As
moças de Tarantino além de apresentarem a sensualidade (pelo menos o segundo
grupo delas), conseguem ainda apresentarem inteligência como qualidade,
quebrando os ditados. Bem, voltando a comparação, há uma cena no filme em que
as meninas tem uma conversa comum, falas que não são fundamentais para o
entendimento da história, mas que sem sombra de dúvida, dão um toque de
realismo, voltam a aparecer como em Resevoir
Dogs.
A sua então homenagem aos trash movies dos anos 70 é cheia de
referência, podemos listar de início a primeira cena: Jungle Julia (a locutora
sensual pertencente ao primeiro grupo de garotas) deita-se embaixo de um pôster
de Bridget Bardot, na mesma posição que a antiga atriz. As referências não
acabam por aí e são inclusive a filmes seus. Podemos notar, por exemplo, que
além da conversa aleatória como em Resevoir
Dogs o segundo grupo de meninas, tem um carro amarelo com listras pretas,
ok, aqui vai à pergunta: A qual filme de Tarantino se remete as cores amarela e
preta? Tic toc ti... KILL BILL! É claro. Com referência não clara o suficiente,
Tarantino faz questão de colocar como toque de celular de uma de suas personagens,
a música pertencente à trilha sonora de Kill Bill.
Quase que separado em dois
pequenos filmes, com um mesmo (e feio) vilão é claro, ao ir pra “segunda parte”
Tarantino faz uma pequena sequência em preto e branco, remetendo aos trash movies, que não dispunham de
grande orçamento. Se você ficou com cara de interrogação ao ver uma cena metade
P&B, metade colorida: não se preocupe, basta ter doutorado em Cinema para
entendê-la, mas contiuemos...
Outro recurso a ser notado é os “shots”,
os congelamentos de imagem seguidos por fotografias detalhadas, isso fica
complicado de se explicar com palavras. Pois então, temos um exemplo: ao
colidir com o carro de Stuntman Mike, Tarantino faz uma sequência de shots que
mostram detalhadamente (e uh, dolorosamente) a morte das garotas, o que
acontece com seus corpos quando a física entra em ação durante a batida.
Poderíamos falar sobre Tarantino
por parágrafos e mais parágrafos, mas eu os deixo com a conclusão de que ao
final do filme o que me vem a cabeça é: “Dude, you shouldn’t mess with us”. O
final tem um “quê”, dos muitos charmosos, de feminismo, de algo poderoso.
Apesar de não ter sido lançado comercialmente, Death Proof mostra sua potencia
diante dos filmes trash e destaca-se,
corra atrás do prejuízo e encontre “a prova de morte” mais perto da sua casa.
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