29 de março de 2012

Adaptação | Wanted (O Procurado)

"This is my face while I'm fucking you in the ass."
Como todo grande fã de livros ou quadrinhos, eu costumava ficar puto com a maioria das adaptações cinematográficas de nossos ídolos de papel. Porém, já há algum tempo, busco liberdade de tal fúria. Assisto aos filmes com um olhar menos crítico, tentando pensa-los como uma produção independente, que, quem sabe, lembre agradavelmente as obras sobre as quais eles se construíram.
Consegui assistir aos últimos filmes de Harry Potter sem esbravejar contra tantos ultrajes à trama original. Vi Watchmen e suportei a fuga da profundidade da obra de Allan Moore. Perdoei Peter Jackson por não ter incluído o Tom Bombadil na trilogia do Senhor dos Anéis...
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Bem, o Bombadil é um dos caras mais fodas que passaram pelas páginas de Tolkien, mas, OK, a adaptação da obra foi espetacular. Bombadil não foi necessário.
Mas que seria demais vê-lo nas telonas... Ah, como seria.
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Enfim, acredito que me tornei uma pessoa melhor. Mais tolerante. E menos chata, porque convenhamos, é muito ruim ver um filme com um babaca reclamando o tempo todo ao seu lado.
Porém, como a onda que destrói o castelo de areia, quando só lhe falta uma torre, Hollywood resolveu adaptar “O Procurado”.
Eu havia lido os quadrinhos – um arco de 6 edições – há pouco. Eles tratam de coisas como moral, liberdade, violência, sistema e a batalha entre bem e mal, de uma maneira totalmente diferente da usual. Mark Millar, o autor, criou um personagem que, clichê, é um completo perdedor. Wesley Gibson é hipocondríaco, odeia seu trabalho, odeia sua vida e sua namorada o traí com seu melhor amigo, e ele sabe disso.
De súbito, enquanto ele compra seu almoço – a porra de um sanduíche – uma mulher, Fox, o interpela e sua vida se transforma. Gibson, sem saber, era filho do maior assassino do seu tempo, o Matador. Este, por sua vez, fazia parte da organização que comanda o mundo desde a grande derrocada dos super-heróis (é, eles existiram. E foram derrotados), a “Fraternidade”.
A Fraternidade é uma rede criminosa composta pelos super-vilões que derrotaram os heróis em 1986 e, desde então, são donos do planeta. Quando o Matador é assassinado, a Fraternidade busca aliciar Wesley. É preciso que sempre exista um Matador.
Nosso protagonista passa por um árduo treinamento, que, além de tiro e luta – habilidades que lhe parecem iantas – incluem liberações de fúria, depravação e niilismo sem sentido contra todo o tipo de lei, bondade ou moral que exista. Wesley é levado a experimentar a liberdade extrema. E gosta disso.
Os quadrinhos não tentam passar uma mensagem. Não dizem o que você deve fazer para deixar de ser um perdedor. A historia parece apenas querer jogar merda no ventilador social e rir, ao vê-la se espalhar. Wesley se torna a porra de um vilão “Badass” e saí fodendo com tudo. O que rende uma bela história, cheia de referências pop, traições, miolos voando e membros perdidos, largados em poças de sangue.
Então veio a adaptação. Com grandes nomes como Morgan Freeman e Angelina Jolie, e a premissa de contar a historia de Wesley Gibson, o filme prometia. Maldita ilusão. O novo o Procurado só pegou o clichê do perdedor covarde que, apoiado por algumas mãos, se levanta e se torna fodão.
A Fraternidade passou a ser um grupo de assassinos conduzidos pela droga do lema "matar um para salvar mil". Os alvos do grupo se tornaram pessoas que interfeririam na ordem do mundo, causando muitas outras mortes. Tudo supostamente funcionando em nome de um “bem maior” e indo totalmente contra o conceito de maldade libertina da HQ.
Para completar o quadro, os alvos que deveriam ser eliminados, pelo bem da humanidade, eram escolhidos pela droga de um tear mágico, que de algum jeito besta escrevia os nomes dos que deveriam virar presunto.
Ainda assim, o filme tem lá seus momentos divertidos e algumas boas sacadas. Não é totalmente tempo perdido. Mas não chega aos pés dos quadrinhos e não merece carregar o nome que ostenta. As únicas coisas que ele mantem são os nomes dos personagens. E não todos. Aliás, alguns dos personagens da HQ parecem ter sido feitos pensando no ator que deveria encená-los. Pode ser ilusão minha, portanto não me aprofundarei. Se sentirem-se instigados, leiam os quadrinhos e busquem semelhanças de personagens com algumas celebridades que poderiam tê-los representado.
Como adaptação, O Procurado não merece receber nota alguma. Me recuso a considera-lo. Como filme, bem, as cenas de ação até são legaizinhas, tem o Morgan Freeman, o que sempre soma um pouco, a Angelina Jolie está linda e a atuação de James MacAvoy foi bastante boa. Vale um 5,5.

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