De battre mon coeur s'est arrêté é um filme que retrata o conflito interno no sentido mais profundo de um indivíduo, assim como de cada um de nós: quem queremos ser e quem a sociedade nos leva a ser. Muitas vezes nos deparamos em um ponto de nossas vidas e, ao olharmos para trás, vemos que estamos muito distantes de onde pretendíamos estar naquele momento.
O protagonista, Tom, é um agressivo agente imobiliário, que quebra tudo para expulsar as pessoas que habitam os locais vazios que ele e seus sócios adquirem para vender. Dentro dessa agressão, o roteiro mostra todo o contexto conturbado que o levou àquele ponto. Seu pai trata-se de um charlatão aproveitador, suas companhias são ruins, e, nas cenas que se seguem, o agressivo se mostra na realidade amargurado.
Encontramos então o motivo de tal amargura quando contextualizada sua história. Tom queria seguir o caminho de sua mãe, e ser pianista, no entanto, com seu falecimento, e sem apoio do pai, o jovem passou a fechar-se e, aos poucos, esquecer quem realmente pretendia ser, tornando-se algo bruto. Bruto até o momento em que se encontra com um antigo empresário de sua mãe, e recebe o convite para realizar uma audição.
Já sentiu o ar invadindo seus pulmões após um longo período mergulhado, e quão vivo isso faz com que você se sinta? Acompanhamos tal sentimento com o protagonista. Neste remake de um filme de 1978, é possível sentir o quebrar de correntes que o prenderam em um universo no qual não queria estar. Após isso, o problema com o qual ele se confronta é outro. Já ouviu falar que, se um elefante é criado com uma corrente, mesmo depois de grande e forte o suficiente para se soltar dela, ele nem ao menos tentará? Pois é.
O mundo e sua vontade entram em um colapso perturbador, entre o eu em que ele havia se tornado e o eu que ele sentira perdido por um longo tempo. Sua paixão pelo piano se contrapõe à sua brutalidade física e emocional e sua luta interna é evidenciada em cada uma de suas ações, como se ambas fossem feitas com remorso ou dor.
O filme não é TÃO atual, é francês, e foi produzido em 2005, pelo diretor Jacques Audiard. De battre mon coeur s'est arrêté ganhou o prémio César de melhor filme em 2006. O diretor, também responsável por Un Prophète, embora não tenha muitos produtos, é comentarista cinematográfico de longa data, o que o torna apto a trabalhar muito bem todos os aspectos audiovisuais do longa.
O melhor do filme é não precisar chorar com a situação. Aliás, a atuação de Romain Duris foi muito adequada ao papel. O durão, solitário, quieto, que no entanto possui tantos sentimentos fortes dentro de si, que não sabe como expressá-los. Você se prende ao filme, à história, e quando percebe, está refletindo sobre sua própria vida. Afinal, quem de nós nunca se perguntou se estamos no lugar em que realmente deveríamos estar?
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