"Blood will be spilled. Lives will be lost. Fortunes will be made. Men will be ruined".
É 1965 nos Estados Unidos da
América. A Guerra de Secessão entre os exércitos confederados do sul escravista
e as forças armadas yankees do norte libertário acabou. O espião confederado John
Wilkes Booth assassinou o presidente Abraham Lincoln. Os escravos estão livres
para viver em um mundo de dor e preconceito. Os primeiros arremedos de paz começam
a se desenhar no horizonte, mas a poeira da Guerra Civil ainda não baixou. A nação
norte-americana é uma ferida aberta.
Esse
contexto de dor, destruição, arrependimento, consciências pesadas, passados
sangrentos e cemitérios cheios serve de palco para a série de faroeste Hell on
Wheels, criada por Joe e Tony Gayton e veiculada pela AMC. O seriado estreou no
dia 6 de novembro de 2011 e sua segunda temporada terminou em 7 de outubro de
2012. Cada temporada possui 10 episódios, de 45 minutos cada. Ainda não se sabe
se haverá uma terceira.
A
série toda gira em torno da construção de uma ferrovia que deve ligar o leste e
o oeste do país. O responsável pela concretização do projeto é Thomas Durant (Colm
Meaney), um empresário inescrupuloso e corrupto que superfatura o valor da obra
para encher os próprios bolsos, aproveitando-se de sacrifício e dor alheios. O
seriado inteiro, salvo curtas exceções, acontece nos arredores da construção da
ferrovia, em especial no acampamento de trabalhadores e negociantes que a
acompanha.
O acampamento que acompanha a
construção é chamado de “Hell on Wheels”. Algo como Inferno Sobre Rodas. Nada
mais apropriado. A violência reina naquele agrupamento sujo, sangrento e brutal,
composto por mendigos, beberrões, assassinos, escravos libertos, ex-soldados,
prostitutas e todo o tipo de gente rejeitada pela sociedade ou incapaz de
voltar a viver na civilização depois de ter presenciado os horrores da guerra.
A
ação começa quando Cullen Bohannon (Anson Mount), o protagonista,
chega em Hell on Wheels. O cara é o anti-herói por excelência. Ex-soldado
confederado, pistoleiro, silencioso, durão e atormentado por fantasmas do
passado, Bohannon busca vingança contra os soldados que mataram sua esposa, mas
acaba se tornando uma peça importante na construção da ferrovia.
E esse é só o começo da história. Há muito mais do que se falar. O seriado é permeado por revoltas internas, brigas por poder, ataques indígenas, hipocrisia, o surgimento de uma amizade entre Bohannon e Elam Ferguson, um dos empregados negros da ferrovia e, até mesmo, uma fagulha de romance acendida pela inglesa Lily Bell, cujo marido é assassinado trabalhando em um cargo de importância na ferrovia e ela toma seu lugar. Os quatro, Bell, Ferguson, Bohannon e Durant, compõe o quadro de personagens principais da série, que ainda conta com dois irmãos irlandeses, um padre desiludido, um norueguês louco chamado de Sr.Sueco, uma prostituta que viveu entre índios, um índio convertido à fé cristã, um senador corrupto, entre muitos outros personagens que dão à série um tom humano para aquele ambiente brutal. E nesse passo, a série explora de maneira incrível os limites que um homem, ou mulher, pode alcançar até estar além de qualquer redenção, e afunda-se, junto com seus personagens, no fundo da alma de seus personagens. É impossível não sentir ao menos um pouco de reconhecimento ou simpatia com aquelas figuras que, a despeito de tudo e todos, se meteram a atravessar o maldito país construindo a droga de uma ferroria.
Não
discorrerei mais da história para evitar spoilers. Vale constar, contudo, que, ainda que nada
tenha sido decidido quanto à viabilidade de uma terceira temporada, os episódios “Blood
Moon” e “Blood Moon Rising” encerram a segunda com fogo, dor, destruição e
sangue, em um grand finale digno da beleza brutal, fria, crua e intrinsicamente humana do
resto da série, mas também deixa aberto um precedente muito promissor para uma possível
continuação.
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