15 de outubro de 2012

Moviola Incandescente | O Bebê de Rosemary




Hoje vamos falar de um filme de Terror!

Eu sempre digo que é muito complicado fazer um filme desse gênero. Afinal, existe uma linha tênue e completamente transponível que separa o terror do ridículo. Porém, é um fato de que o filme de hoje não se faz presente ao outro lado dessa linha. Hoje, especialmente, vamos falar de um dos meus filmes favoritos. Hoje, é dia de O Bebê de Rosemary.

Quem assina o roteiro e a direção é, nada mais nada menos, de que ROMAN POLANSKI. Esse controverso diretor que já realizou filmes como “Chinatown”, “O Pianista” e muitos outros. A história é uma adaptação de um livro de 1967, um ano antes do lançamento do filme.

A história que se passa é sobre Rosemary (Mia Farrow, famosa por filmes do Woody Allen – e por ter sido casada com o mesmo) e seu marido Guy, que acabam de se mudarem para uma nova casa, um apartamento no coração de Nova York, o famoso apartamento DAKOTA – que, aqui no filme, tem seu nome trocado para preservar a integridade do local. Coincidência ou não, é o mesmo prédio onde John Lennon estava saindo quando fora assassinado. Além do mais, o Dakota é famoso por abrigar escândalos. Com uma busca mais apropriada no Google, é possível encontrar alguns elementos interessantes que já se passaram por lá.

O problema é que, além da mudança da casa, outras mudanças não tão boas acontecem na vida do casal. A começar por seus vizinhos, aparentemente simpáticos, Roman e Minnie – magistralmente interpretados pelos demônios cinematográficos Sidney Blackmer e Ruth Gordon.

Apesar dos espaçosos vizinhos, tudo vai bem até que Rosemary engravida. O problema são as condições para essa gestação ocorrer. A partir daí, Rosemary passa a desconfiar não só dos vizinhos, mas, a desconfiança passa a permear até mesmo seu ambiente familiar, com o seu marido. A ver. A cena que dá luz a isso inicia-se quando Rosemary é dopada pelo marido que, estranhamente, havia adquirido uma proximidade ímpar com o casal vizinho. Uma vez dopada, Rosemary cai em um “sono profundo” e passa a evidenciar cenas nas quais não fariam jus a o ambiente em que ela havia adormecido. Rosemary agora está em um barco, com algumas pessoas bem vestidas, pessoas, aparentemente, da alta sociedade.


Depois, Rosemary acorda no interior desta embarcação, agora, nua e seus “convidados” igualmente nus observando Rosemary ser possuída por alguma figura não-visível. Mãos cascudas, escamosas, acariciam e desenhos símbolos e formas no corpo nu de Rosemary. Estamos diante de um ritual. Um ritual satânico.

Aqui, o espectador passa a vivenciar fatos do filme em que o protagonista não tem conhecimento, ou, duvida deles. Essa é uma das técnicas muito utilizadas em filmes de terror, que ajuda para crescer a atmosfera de tensão. Todo o cenário da tensão e do oculto é iniciado aqui. É como se desde o início do filme, todos os elementos tivessem sido realizados e montados para que essa cena ocorresse  para, a partir daqui, desencadear todos os outros fatos.

Evidentemente, Rosemary passa a ser controlada pelos vizinhos – que fazem a ponte entre toda aquela sociedade “secreta” em cuidar daquilo que seria o filho do Anticristo sendo gerado no útero de uma mortal. A começar pelas doeses de bebida diárias trazidas por Minnie, acompanhando de perto essa gravidez. Depois, o pingente em forma de círculo )remetendo ao cérebro?) em que a mulher jamais deve retirar, como um amuleto de sorte para Rosemary.

Na cena final, uma das mais inquietantes do filme, Rosemary tem a certeza de que seu filho foi, realmente, fruto de um ritual satânico e que, na verdade, tem como pai não seu marido Guy, mas, a própria Besta. Nunca chegamos a ver, exatamente, o fruto dessa união – o próprio bebê em si. Ele permanece a cabo de nossas interpretações e de nossa imaginação – uma técnica usada por muitos diretores, a exemplo de Spielberg que reluta em mostrar o tubarão ao passar do filme, aumento a tensão entre os espectadores em pensar “o que e COMO é aquilo?”.

Quando Rosemary chega de frente ao berço e olha para seu bebê, apenas, podemos ver a sua reação (o que é usado ainda mais para aumentar nossa tensão e, é claro, nossa curiosidade). É nesse momento em que o vizinho Roman chega para Rosemary e diz algo como “Seja uma mãe para seu filho” e, por sua vez, Rosemary se desapega de qualquer valor e se entrega aos seus deveres de mãe e, ao mesmo tempo, sorri para a criança. Ela está entregue para a ceita. E, assim como o filme começa, ele termina com uma música inquietante e os tetos de vários prédios nova-iorquinos, em clara menção de que uma coisa dessas está acontecendo dentro de um prédio e que pode estar acontecendo agora, na real, mas nunca iremos saber. Que segredos encontram-se dentro de cada janelas dessas?


Então, devemos, não somente nesse filme, observar qual o tipo de transformação que o personagem protagonista da história sofreu. Rosemary começa o filme como uma pacata menina do campo para, no fim, se tornar a mãe do Anticristo. O que passou por entre isso, de que forma foi construído esse personagem? Esse é o poder de observação da narrativa de um filme, referente ao personagem. Observando isso você, certamente, vai evidenciar e desfrutar de sensações nunca antes sofridas em um filme.

Vejam Rosemary! É Obrigatório!

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