6 de outubro de 2011

Crítica | Cubo


Entre quatro paredes
Patrick Inada

Quando eu era pequeno e era obrigado a assistir filmes de terror com a minha mãe, para não ter que ficar sozinho no meu quarto, a cena de um trailer me traumatizou pra sempre: um homem em uma sala, sendo cortado em vários pedaços. Muitos anos se passaram entre esse dia e o vício que eu passei a ter pelo gênero, até resolver descobrir que filme era esse.
Pois bem, "Cube", de 1997, é o segundo filme dirigido pelo canadense Vincenzo Natali, (que, aliás, só alcançou algum sucesso com esse filme e "Splice", uma ficção sobre a mistura de DNA humano com animal) e, embora tenha sido produzido com baixo orçamento, passou a ser considerado um thriller cult, por conta de suas conexões com a obra de Franz Kafka (todo o pesadelo surrealista etc.).
O enredo do filme consiste em um grupo de pessoas que acorda dentro de salas, sem alimento, nem água, e precisa descobrir como sair de lá. Até aí, ok, mas o que complica é que cada sala possui seis aberturas para outras salas semelhantes, e assim sucessivamente, sendo que algumas delas possuem armadilhas letais. Para que eles consigam fugir, eles precisam trabalhar em equipe.


No entanto, o que poderia ser um terror vazio se torna atraente por um conjunto de detalhes: o objetivo do "experimento", ou mesmo quem o fez não é explicado durante o filme (nem durante as duas continuações, Hypercube e Cube-Zero). A real intenção do que acontece está nos diálogos dos personagens estereotipados - o ladrão, a médica, o policial e por aí vai - como a questão do "porquê lutar tanto para sair de lá e voltar para um mundo pior", ou mesmo a iniciativa de liderança e os efeitos que a situação de pressão vai provocando em cada um deles, levando alguns a agirem de forma insana, expondo o caráter "herói" e "vilão" de cada um.
Claro que, além das frases que levam o expectador à reflexão, também consta, na medida adequada, uma quantidade de armadilhas para os fãs do bom terror. Tanto a "mesh trap" (que me causou o trauma), como a "sushi trap" (minha preferida, diverdissíma) e todas as outras que colaboram para o clima tenso presente em todo o decorrer do filme.
Como a maioria dos filmes, suas sequências perdem o objetivo central do original, e acabam se tornando filmes ruins incompletos. No caso do segundo, Hypercube, há um conflito de universos paralelos que deixa a história ridícula. Cube-Zero explica parcialmente os acontecimentos que originaram o primeiro filme, mas nada que esclareça o objetivo da "operação". "Cube", embora já tenha quase 15 anos, aborda a psicologia humana de uma forma atual, e é um longa digno de atenção. :)

Nota: 9 bilhetes

Patrick Inada

Um comentário:

Lucas.Fabrício disse...

Rapaz, curioso ler esse seu texto. Comigo aconteceu algo parecidíssimo. Quando criança vi esse filmes e fiquei com a tal cena na cabeça. Hoje, por acaso, resolvei reve-lo e agora, mais de 15 anos depois, consegui captar toda a profundidade da situação do longo.
Muito legal seu texto.
Parabéns.