8 de maio de 2012

Crítica | Guerra ao Terror


O filme de 2009 que fez de Kate Bigelow a primeira mulher a ganhar o Oscar de Melhor Diretor tem seus méritos. The Hurt Locker, título original em inglês que quer dizer “dor inacabável”, tem objetivo de nos ligar intimamente com o pensamento do grupo de três especialistas americanos, William James (Jeremy Renner), JT Sanborn (Anthony Mackie) e Owen Eldridge (Brian Geraghty) e tenta representar o que é participar da Guerra do Iraque para esses rapazes que formam o esquadrão antibomba. A linha do tempo do filme é decrescente, conta os dias restantes até a mudança de turno da “Companhia Bravo”, os dias que restam até que os soldados cumpram seu dever  e possam retornar às suas casas.

Após um incidente durante a missão realizada pelo trio inicial, formado por Sanborn, Eldridge e Matt Thompson (Guy Pearce), que resulta na morte de Thompson pela detonação inesperada de uma bomba, Will James entra em cena como seu substituto. Imprudente, inconsequente e viciado em adrenalina, o personagem interpretado por Jeremy Renner incorpora perfil inverso ao de Thompson e sua desobediência e rebeldia acaba por incomodar os companheiros. Desconfortável com a maneira de agir do parceiro, Sanborn se irrita e sente dificuldades no trabalho em equipe, mas ainda assim, os três reconhecem que ao final de cada operação, é uma batalha vencida contra a morte.

O roteiro de Guerra ao Terror foi escrito pelo jornalista americano Mark Boal e foi resultado de mais de 100 entrevistas feitas com soldados e cidadãos iraquianos, somados às observações durante a sua viagem ao Iraque. Apesar de diversas vezes premiado, o roteiro de Boal sofreu acusação vinda do Sargento do Exército dos Estados Unidos, Jeffrey Sarver, que acusa a produção de ter baseado o filme e o personagem principal, William James, em sua própria vida, alegando que o longa retrata algo que aconteceu de fato, ao contrário do que a produção afirma, já que o filme é rotulado como ficção. Sarver chega a afirmar que até mesmo o apelido do protagonista no filme, “Blaster One”, era seu código-nome no Iraque.


As diversas polêmicas as quais o filme está envolvido não apagam a sua grandiosidade. Kate Bigelow, claramente apaixonada por violência e temas masculinos, soube como manipular e sensibilizar The Hurt Locker. Sem questionar os por quês da guerra ou a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, problematizar as polêmicas atuais ou alavancar a política, Bigelow converge a Guerra ao grupo de especialistas antibombas e procura focar no presente e nas situações em que os soldados vivem no momento dos conflitos. O filme dá a entender que eles vivem aqueles minutos sem pensar no que deixaram pra trás ou o que os espera no futuro.

Importante notar que ao montar o roteiro, Boal e Bigelow não se limitaram aos campos de batalhas e detonadores, também preocuparam-se em montar estrutura familiar e psicológica para os personagens. William, Sanborn e Elridge possuem perfis sólidos e marcantes, que apesar de apresentarem vidas diferentes, compartilham mesmo desejo e dever: defender os Estados Unidos da América acima de tudo.

Filmado na Jordânia, próximo a fronteira do Iraque, o filme teve aproximadamente três meses de gravação e teve sua equipe e elenco escoltada durante todo esse período. Falando em equipe, não podemos deixar de falar dos bastidores, a edição do filme é impecável, tanto os cortes, como os ângulos de filmagens, foram muito bem escolhidos. Em maioria opta-se pela câmera manual e descarta-se o tripé, os movimentos são agitados e inconstantes. Uma cena marcante (para mim): Close no olho do  suspeito taxista iraquiano e em seguida na bandeira do Iraque presa ao seu retrovisor interno e seu reflexo desconfigurado no mesmo, que está com o espelho quebrado.


Grande parte do filme consegue transmitir a realidade vivida em Guerra (pelo menos o que nos chega ao alcance), pois Kate modela as cenas de modo a deixá-las tensas e perigosas. Os soldados estão sempre à beira do abismo, de um lado tudo, do outro nada. A vida e a morte. O jogo de guerra é rápido, as escolhas devem ser rápidas e são decisivas, o filme deixa bastante claro essa situação. Cenas em que você se pega com o corpo tenso e agarrado no sofá: 1. Nos minutos iniciais em que Elridge descobre que um cidadão próximo ao detonador possui celular em mãos 2. William James anda em meio a uma rua suspeita e deserta. Após uma minuciosa procura, Will finalmente acha a origem da bomba... e após desarmá-la, acaba descobrindo que essa dá origem a mais seis. (pôster alternativo do filme) 3. O encontro do trio especialista com mercenários britânicos em meio ao deserto e após poucos minutos de conversa, o ataque a ambos por um grupo de iraquianos. A cena registra tiroteio incessável de ambos os lados. O que no começo parece diversão, no final configura-se como missão trabalhosa e arriscada 4.Talvez um dos momentos mais fortes do filme é esse: em que um homem bomba ajoelha-se e mostra-se arrependido, implora por perdão e pede para que os soldados americanos tirem a bomba de seu corpo antes que acabe o tempo do detonador. O protagonista tem receio mas tenta até o último segundo. Desculpa-se e abandona o homem aos prantos a segundos da bomba explodir.

Quanto a o fundo musical, penso que a palavra perfeita pra definir a trilha sonora de Marco Beltrami e Buck Sanders é tensão. As músicas têm batidas fortes e mesclam ritmos orientais com sonoras típicas de suspense e ação, dando ao fundo musical a mistura perfeita, como é o caso da música que leva o próprio nome do filme “The Hurt Locker”, composta por Beltrami e Sanders. Quando o clima de suspense se sobressai ao de ação, músicas lentas e de notas pesadas, mescladas com instrumentos agudos que remetem à cultura oriental roubam a cena, que é o caso de B-Company. Em outros casos, opta-se pelo fundo silencioso, onde as falas secas e determinadas tem maior impacto.
O vencedor do Oscar de Melhor Filme, Diretor, Edição, Roteiro Original, Som, Edição de Som e indicado a outras três categorias em 2010 é um longa que definitivamente tem que estar na sua lista de filmes para serem vistos. Além disso, eu recomendo o site oficial do filme: http://www.thehurtlocker-movie.com/ , ele é muito bem feito e vale a pena conferir também!


Fala marcante:
Coronel: Quero apertar-lhe a mão.
William James: Obrigado, Senhor.
Coronel: Quantas bombas já desarmou?
William James: Eu não tenho certeza.
Coronel: Sargento? Eu lhe fiz uma pergunta.
William James: ... 873, Coronel.
Coronel: 873... 873! Isso é foda. 873!
William James: Contando com a de hoje, Coronel.
Coronel: Deve ser um recorde. Qual é a melhor maneira de desarmar uma coisa destas?
William James: É ficando vivo, Coronel.


Fontes: Tudo Sobre Cinema, 2011

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom!
Otima crítica!! Parabéns!!