31 de maio de 2012

Adaptação | As Patricinhas de Beverly Hills



Emma Woodhouse é uma linda, inteligente e rica jovem de 20 anos. A personagem criada em 1815 por Jane Austen vive em Hartfield, propriedade fictícia localizada na Inglaterra. História vai e história vem e Austen resolve transformar sua personagem em uma casamenteira que tem como único objetivo formar novos casais entre as pessoas que a cercam. Após tanto tempo no cargo de cupido, Emma se vê no direito (e na vontade) de ter alguém pra si e é nesse momento que resolve olhar para Frank Churchill e viver feliz para se... Não, não não. Como na vida real, as pessoas só dão valor ao que têm quando perdem e com a nossa querida Emma não foi diferente: percebeu que amava o seu amigo, Sr. George Knightley, quando sua também amiga, Harriet Smith, confessou amor pelo mesmo. O ciúme veio e o coração bateu. Confuso, não é? Deixa-me explicar em outras palavras: As Patricinhas de Beverly Hills.

Exatos 180 anos se passaram e Amy Heckerling fez uma verdadeira adaptação. Emma transformou-se em Cher (Alicia Silverstone) e Hartfield em Beverly Hills, Harriet agora é Stacey (Brittany Murphy, amém) e Sr. George é o meio irmão de Cher, Josh (Paul Rudd). Poderíamos resumir o enredo do filme, mas seria repetir a história de Jane Austen, somada, é claro, às futilidades dos anos 90: Calvin Klein, Jeep e Beverly Hills.

O contexto em que a personagem foi inserida é um ponto a destacar, como a família moderna: uma mãe que morre em meio a uma lipoaspiração, um pai que tem outros filhos com outras esposas, que não para de trabalhar nem por um segundo e é extremamente impaciente e rude com a filha (mas nada que seja pejorativo demais). Quanto à escola, Cher diz, orgulhosamente, ao pai que irá persuadir os professores para que aumentem suas notas, “that’s the american (new) way!”.



Tratando-se do filme, considero como fato mais marcante o diálogo. Amy Heckerling construiu um roteiro baseado na linguagem dos adolescentes da época, o que ficou claro e característico em As Patricinhas de Beverly Hills. “AS IF!”, diz Cher o tempo todo para seus amigos, “até parece” ou “capaz”, em português. A crítica à cultura de Los Angeles está presente quando Cher justifica que não precisa aprender a estacionar porque há manobristas disponíveis em todos os lugares na cidade.

Alicia Silverstone, antes conhecida pela participação do videoclipe “Crazy” do Aerosmith, abraçou o papel e fez de Cher uma patricinha memorável. Sua voz desafinada, os gritinhos histéricos, seu impecável cabelo loiro e as meias 5/8 acompanhadas da minissaia marcaram a nossa geração.

Em outras cenas, a fútil heroína desdobra-se de maneira inteligente. Cher se faz de boba, mas é bastante esperta, várias vezes une o complexo ao senso comum. Quando Josh e sua acompanhante vão buscá-la em Sun Valley, Cher contesta a moça em seu discurso: “Não, Hamlet não disse isso.” – Acho que me lembro muito bem de Hamlet. “Lembro muito bem de Mel Gibson e ele não disse isso. Foi o Polonius quem disse”, rebate a patricinha. Não há como negar que Cher e suas pérolas são inesquecíveis.

 “Clueless”, a leve adaptação do romance de Jane Austen, é uma leve comédia que retrata a vida da mimada “casamenteira” do século XX, Cher. O bacana é ver os atores famosos com carinha de bebê, entre eles estão: Alicia Silverstone, Paul Rudd, Brittany Murphy, Stacey Dash, Breckin Meyer, Donald Faison, Dan Hedaya, Jeremy Sisto, entre outros. Assista sem medo de ser feliz e  de se tornar uma patricinha, afinal, a trilha sonora é do Radiohead e não da Britney Spears, calm down.


Diálogo memorável:
- Cher, get in here.
- What’s up, daddy?
- What the hell is that?!
- A dress.
- Says who?
- Calvin Klein.


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