13 de maio de 2012

Adaptação | Precisamos Falar Sobre o Kevin


“It’s my fault” (É a minha culpa), grita Eva Katchadourian quando uma mulher, no meio da rua, bate em sua cara e um homem fala que chamará a polícia. A mãe que a bateu era vítima do filho de Eva, ou melhor, a filha desta mulher foi assassinada por Kevin, um psicopata que cresceu em seu ventre.

“Precisamos Falar Sobre o Kevin” é um filme baseado no livro, de mesmo nome, da escritora Lionel Schriver. Ela estudou vários casos de assassinato em massa dentro de colégios e universidades norte-americanas e decidiu escrever uma ficção com uma perspectiva diferente: a visão da mãe do assassino. Eva é uma mulher de 40 anos, que reexamina a sua trajetória em busca dos motivos que podem ter transformado seu filho, Kevin, num assassino. Em longas e detalhadas cartas ao pai do menino, ela analisa o próprio casamento, o impacto da maternidade sobre sua vida e momentos significativos da infância de Kevin. Seu relato é escandalosamente sincero, pontuado por confissões como a de um dia ter parado no meio da rua, diante das britadeiras de uma construção, e fechado os olhos de prazer ao notar que as máquinas encobriam o som do choro incessante de seu bebê, recém-nascido.

A cor vermelha é presença constante no filme. Desde o primeiro minuto, quando Eva está tomando um “banho de sangue” na "Tomatina" até na união das células na formação do feto. Pode parecer exagero, no entanto esta cor elucida os sentimentos da mãe. No começo, poderia parecer raiva ou até ódio, já na cena em que ela foge de uma das mães, que sofreu a carnificina que Kevin provocou, o que se consta é medo. A limpeza da casa – o fim da tinta vermelha e início da pintura azul – também é um modo do diretor mostrar como Eva está tentando se livrar da culpa de ter criado um psicopata.

Em nenhum momento ela quis a criança. Até no parto ela resistia e nos momentos que a criança grita, ela também quer gritar. Quando Eva vai ao médico para ver se o filho tem algum problema mental ou físico, a espera é que ele tenha algo que justifique o seu comportamento. Para ela seria um alívio saber que o modelo de criação foi correto. Seria um consolo ter o diagnóstico que Kevin, simplesmente, nasceu assim.

O uso de flashbacks durante todo o filme consegue alinhar, perfeitamente, memórias da vida em família com a situação atual de Eva. Um exemplo é quando ela tira as cascas de ovo da boca e ao mesmo tempo passa as lembranças das pessoas que o filho assassinou. Este jogo de cenas mostra, mais uma vez, a tentativa de Eva se libertar da culpa e juntar os pedaços de sua vida.

“Precisamos Falar Sobre o Kevin” não é um drama comum. Ele chama os espectadores para refletir sobre as mães dos Kevins da vida real. Tilda Swinton consegue chamar a atenção para isto de uma forma que não retrate Eva como um monstro e sim como uma pessoa que sofreu uma tragédia e não sabe como reagir. O incrível John C. Reilly prova ser a escolha perfeita para viver o permissivo pai de Kevin. Um exemplo é quando, após Eva tratar Kevin grosseiramente, o filho passa a ter mais respeito pela mãe. Diferente do carinho exagerado do pai, o qual achava que Eva não sabia dar o devido afeto ao filho. Ezra Muller (que encarna o Kevin adolescente) compensa os excessos do roteiro adaptado com uma atuação contida, como pede o tom do livro de Schriver.

A fala de Kevin na penitenciária provoca uma discussão sobre o modo de educar os filhos, “Você sabe como treinar gatos? Enfiam o nariz dele na própria merda, eles não gostam, assim acabam usando a caixa”. Será que esta é a maneira correta? Pode ser, porém o que é estabelecido no filme é o debate deste assunto tão velado e pouco discutido da forma como Schriver soube elucidar.

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