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"I'm a Doctor of Journalism! This is important, goddammit! This is a fucking true story!''.
Sinceramente, escolher uma citação para abrir esse texto foi sofrível. O filme é uma coletânea delas, uma mais incrivelmente genial e absurdamente demente do que a outra.
Explico.
''Medo e Delírio em Las Vegas'' é baseado em um livro homônimo, escrito pelo precursor do Gonzo jornalismo Hunter S.Thompson.
And there goes a little background.
Gonzo é um estilo de jornalismo no qual o jornalista esquece completamente qualquer objetividade e mergulha apaixonadamente no acontecimento e interfere nele. É espontâneo, subjetivo e parcial. O termo ''gonzo'' supostamente se refere a uma gíria irlandesa que designa '' o último homem de pé após uma maratona de bebedeira'' (fonte: Wikipédia).
''Medo
e Delírio em Las Vegas''
é considerado o texto gonzo por excelência, Thompson escreveu-o baseado em
experiências suas, tendo como protagonista o jornalista Raoul Duke, nada mais
que uma representação do próprio autor. O
livro todo é contado em primeira pessoa.
De volta ao filme.
Seguindo o conceito do livro, o filme
inteiro é narrado, em primeira pessoa, pelo protagonista, uma figura tão insana
quanto o filme em si. Aliás,
representada magistralmente por um dos mestres da insanidade cinematográfica
atual, Johnny Depp.
A
trama não é exatamente linear. O filme já começa na estrada (calma, já
explico), mas a história começa com nosso anti-herói bêbado e drogado, junto de
seu advogado samoano (Benicio Del Toro), perto da piscina de um hotel. De
repente surge um anão de terno carregando um telefone cor de rosa e dizendo que
o senhor Raoul Duke tinha uma ligação. Era trabalho, o jornalista deveria cobrir
o Mint 400, uma corrida no deserto ao lado de Las Vegas.
Importante
citar que o protagonista é um sobrevivente da década de 60. Um remanescente da
cultura do ácido que vê nessa cobertura a chance de fazer ''Uma Jornada
Selvagem ao Coração do Sonho Americano'' (por acaso, esse é o subtítulo do
livro). Assim, jornalista e respectivo advogado alugam um conversível vermelho,
enchem ele de drogas pesadas e bebida e pegam a estrada, rumo a Las Vegas.
A
insanidade da viagem é absurda. Eles vão a extremos inimagináveis e muita coisa
acontece naqueles dias, sendo que uma das menos relevantes é a corrida. O filme
é repleto de referências à cultura das drogas e a vida da época. Tudo é
exagerado, caricato até, e os enquadramentos de câmera alimentam a ideia de insanidade,
detonando a mente do espectador.
É,
enfim, um filme estranho, que representa a estranheza de uma época. Representa
o que sobrou de uma geração inteira, amante da liberdade extrema. E representa,
por fim, uma mostra dos extremos que o homem pode alcançar.
Vale
a pena para quem conhece um pouco da história e está disposto a mergulhar nesse
mundo por 118 insanos minutos. Só há de se lamentar que o filme não tenha sido
capaz de captar toda a essência do livro e deixa muita coisa mal explicada, tornando-se, por vezes, um tanto cansativo. Ainda assim, rende várias risadas e muito no que pensar. Recomendo.
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