11 de junho de 2013

Crítica I Boca do Lixo


Oh! Meu querido primo pobre

Filmes produzidos na Boca do Lixo
Demorei mais de dois dias pensando em um título para essa crítica, mas no entanto isso que vocês estão lendo acima foi o melhor que consegui escrever, e espero que atenta as minhas expectativas quanto dos apreciadores desse conteúdo.

Gostaria de dedicar minha crítica não apenas ao movimento, mas a toda uma classe de artistas injustiçados pelos críticos e talvez até pelo seu público. Pretendo apresentar minhas homenagens como também minha raiva, do projeto da maior indústria de filmes nacionais , A Boca do Lixo. Um nome que na minha opinião pouco reflete o movimento, pois se 'reciclado' percebe-se um aprimoramento da estética cinematográfica. Acontece que enquanto os artistas da 'Boca do Lixo' foram profanados por grande parte da crítica, e o movimento formado por grande intelectuais elitistas cada vez mais ganhou apoio financeiro e técnico do governo. O “Cinema Novo” apesar de suas críticas ao regime da época, não fez o mesmo esforço que Walter Hugo Khouri, Carlos Reichenbach, Guilherme de Almeida Prado fizeram com a tentativa da primeira Bollywood brasileira, a rela tentativa de um cinema independente.

A fama do “Cinema Novo” esteve mais associada a um sucesso internacional do que interno. Porém a estética da “Boca do Lixo” apesar da vulgarização da mulher, na maioria dos filmes elas eram protagonistas, como em “Paraíso Proibido” e “Perfume de Gardênia”. Totalmente diferente da visão antropocêntrica estabelecida pelos alicerces do Cinema Novo. Não quero julgar negativamente o movimento do Cinema Novo, porém em muitos aspectos eles se diferenciam de um cinema de vanguarda. Podemos manter até uma ponte entre o Cinema Novo e a Bossa Nova, sendo dois movimentos culturais de estética elitista, sem preocupação com a popularidade e de caráter contemplativo foram das preocupações sociais.

Produções da Boca do Lixo
A Boca do Lixo foi responsável por uma guinada na febre de cinema B. Até porque os filmes da Boca eram produzidos em escala industrial, só nos anos de 1970 e de 1980 ela respondeu por cerca de 80% da produção nacional, sendo que o tempo era curto para as produções da Boca. Enquanto a preocupação do cinema Novo advinha em montar um Nouvelle Vague* no Brasil, os cineastas da Boca foram responsáveis por manter nomes do Cinema Marginal e atores de novela como o ator Paulo Villaça, Tarcísio Meira, David Cardoso. Eles não apenas queriam desenvolver um polo industrial como também um estilo brasileiro. Ao todo montaram aventuras, western, dramas, infantis, comédias, eróticos mas sem o sexo explicito e até mesmo ação. Já no Cinema Novo encontramos gêneros muitos semelhantes aos produzidos na Boca, como “Santo Guerreiro contra o Dragão da Maldade”, que tinha a pretensão de gênero western, mas a preocupação com os conflitos entre o poder um referencial da estética de Glauber levou o filme a um confusão na trama. Com a Boca podemos conhecer as raízes do nosso cinema, assim podemos olhar para produções atuais com predisposição e entender que alguns choques entre gêneros ou estilos e um fator que possivelmente ocorreu dentro de um movimento anterior.

Mas o que aconteceu à Boca do Lixo? Para alguns sumiu na história cinematográfica por ser uma pornochanchada, até parece que nossas raízes estão entrelaçadas apenas ao “Cinema Novo” , pela sua visão patriarcal do cinema brasileiro atual. No entanto a Boca do Lixo não foi nosso pai, mas sim nossas mães , quando ressurgimos nos anos de 1990 com o Novo Cinema brasileiro. Alguns acham que apenas o Plano de Desestatização** foi o protagonista do fim da Boca, mas acredito que ele já havia morrido de desgosto pela crítica negativa advinda da época e a super bajulação dos cineastas do Cinema Novo.

Ótimos títulos dos Filmes
Parece até que as obras de Walter Khouri somente denotam um mero universo pornô, mesmo que seja uma obra forte caráter existencialista ainda assim Reichenbach aparece apenas desmerecendo os valores das mulheres, mesmo com uma obra que explora as sensações das mulheres operárias e não como seres frágeis mas com uma piedade sem tamanho. No fim acredito a Boca do Lixo falhou em seu projeto e por isso acabou por ser sucumbida pelo seu modesto esforço. E no fim tudo o que restou a Boca do Lixo foi voltar as braços das mesmas prostitutas que foram expulsas do Centro de São Paulo e encontraram um lar no Bairro da Luz junto as ruas Triunfo e Augusta.

OBS: Quem quiser pode consultar os episódios do documentário "Boca do Lixo: a Bollywood Tropical", do Canal Brasil.

* Nouvelle Vague – Movimento cinematográfico francês


** Plano de Desetatização – Plano de governo para a privatização de indústrias no período do Presidente Fernando Collor de Melo

Um comentário:

Anônimo disse...

fazer filmes com a tematica Libertina misturando sexo,Sacanagem e humor sujo ou sem frescura como se faziam durante a fase da Boca do Lixo hoje em dia seria impossivél! vivemos tempos de frescura e "Mi mi mi" do Politicamente Correto!!! viva a Boca do Lixo!!! Marcos Punch