De nacionalidade portuguesa,
Fernando Fragata é pouco conhecido em território brasileiro, no entanto começa
a ter seu trabalho reconhecido internacionalmente desde seu último filme,
denominado como ‘Backlight’, que em tradução para o português brasileiro significa
‘Pequenos Milagres’. A Bilheteria realizou
uma entrevista com esse incrível roteirista, diretor e produtor português que
conta um pouco sobre sua história no cinema, os filmes dirigidos e sua adoração
pelo cinema brasileiro.
A Bilheteria - Porque você decidiu entrar no mundo do cinema? O que
mais lhe atrai em relação a fazer e produzir filmes?
Fernando Fragata - Desde muito criança percebi que o cinema
permitia viajar dentro doutros mundos e até noutros tempos. A certa altura não
me bastava assistir a esses "mundos", e por isso decidi criá-los. O
primeiro "filme" que fiz tinha 11 anos. Ainda não tinha máquina de
filmar, mas tinha uma máquina de fotografar. Fotografei tudo como se tratasse
de um filme e fiz um livro com as fotos como se fosse uma banda desenhada ou
storyboard. Chamava-se "O Plano" e era uma aventura sobre "comer
figos da figueira do vizinho sem que o cão deste se apercebesse". Mas era
tudo mentira. O cão era meu, tal como a figueira e nem sequer tinha vizinho. Mas
aí é que está a magia do cinema. Quem visse o meu "filme" ficava a
pensar que eu estava a viver de fato uma grande aventura ao conseguir roubar
figos sem ser apanhado pelo cão terrível.
AB - Qual é o filme que você produziu que mais tem orgulho? Por quê?
FF - Chama-se “Pulsação Zero”. É um filme de ação com algum humor e
com muitas coincidências e reviravoltas da vida que alteram o nosso destino de
forma dramática e muitas vezes inesperada. Tem um pouco haver com o conceito de
"Pequenos Milagres", mas toda a parte de ação foi um grande desafio
principalmente porque o orçamento era muito baixo embora tenha conseguido um
resultado final de que me orgulho bastante.
AB - Seu filme mais recente foi “Pequenos Milagres” (que em
Portugal tem o titulo de Contraluz), como surgiu a ideia de fazê-lo?
FF - Durante um ano fiz nos Estados Unidos um trabalho de
recolhimento de histórias de vida pessoais. Percorri a América de ponta a ponta
e entrevistei pessoas nas cidades bem como nos locais mais isolados e
insólitos. Foi um trabalho puramente jornalístico, o qual me deu a conhecer
histórias verdadeiramente emocionantes que acabaram por ser a matéria de base
para o filme.
AB - Quais são as maiores diferenças entre trabalhar em Portugal e
os Estados Unidos?
FF - A envergadura deste projeto em nada tem a ver com o que fiz
antes em Portugal e é difícil fazer comparações. Mas se há algo que deva frisar
são os requisitos legais e o peso burocrático para se filmar nos Estados
Unidos. Isso é verdadeiramente aterrador em comparação com Portugal. Quanto ao
resto não existe grande diferença. Em ambos os países existem bons
profissionais.
AB - Durante a rodagem do filme Pequenos Milagres você alterou o
roteiro? Adicionou cenas, mudou alguns diálogos?
FF - Há sempre alterações a fazer por varias razões. Principalmente
quando se está a fazer um filme com um orçamento muito baixo. É habitual ter
que se alterarem cenas porque não temos orçamento para conseguir fazer aquilo
que está na página. Contudo, também existem ocasiões em que conseguimos enriquecer
aquilo que está noutras páginas. É uma luta constante tentar encaixar a
historia que temos para contar dentro do orçamento existente para filmar sem
que esta saia danificada ou demasiada distorcida em relação ao roteiro inicial.
AB - Como é sua relação com o cinema brasileiro? Como você vê essa
nova safra de filmes tanto brasileiros quanto portugueses?
FF - Sou grande admirador do cinema brasileiro. Tento ver sempre a
maior parte dos filmes novos. Sou fã de diretores como o Padilha, Meirelles,
Salles e é claro do Cláudio Torres. Tenho pena que o Torres não tenha ainda um
reconhecimento internacional tão vincado como os seus colegas, mas é um diretor
fantástico. Admiro muito o fato de ser diretor, produtor e roteirista (tal como
eu que também escrevo meus filmes). Achei geniais a Mulher Invisível e o Homem
do Futuro. Quanto aos filmes portugueses eu acho que ainda temos um longo
caminho a percorrer para chegarmos perto da qualidade do cinema brasileiro. O
fato dos nossos orçamentos serem mais baixos do que dos filmes brasileiros não
ajuda muito a expandir e arriscar fazer filmes mais ambiciosos como tem acontecido
com sucesso no Brasil.
AB - Quando você escreve um personagem, já pensa em qual ator fará
esse papel?
FF - Não, isso nunca faço porque apesar de gostar de trabalhar com atores e louvar bastante o seu trabalho, não são os atores que me inspiram durante o processo de escrita. O "desconhecido" é quem me inspira. Prefiro imaginar alguém que não conheço, deste modo, o personagem pode ser e fazer o que eu quiser. Além disso, não vale a pena estar a escrever um roteiro com um ator especifico em mente, porque grande parte das vezes torna-se impossível ou impraticável contratar esse ator, e isso é uma desilusão da qual eu não sofro, uma vez que não estou fixado em ninguém especifico.
FF - Não, isso nunca faço porque apesar de gostar de trabalhar com atores e louvar bastante o seu trabalho, não são os atores que me inspiram durante o processo de escrita. O "desconhecido" é quem me inspira. Prefiro imaginar alguém que não conheço, deste modo, o personagem pode ser e fazer o que eu quiser. Além disso, não vale a pena estar a escrever um roteiro com um ator especifico em mente, porque grande parte das vezes torna-se impossível ou impraticável contratar esse ator, e isso é uma desilusão da qual eu não sofro, uma vez que não estou fixado em ninguém especifico.
AB - Para qual público você escreve,
produz, filma os seus filmes?
FF - Em primeiro lugar escrevo para mim. Tenho que encontrar um
assunto de que eu me apaixone. Mas é claro que antes de escrever me pergunto se
eu acho que o público também irá gostar. Se eu acreditar que sim, então dou luz
verde a mim próprio para começar a escrever. Se eu tiver duvidas sobre se o
publico irá gostar, normalmente é porque não é a altura certa para contar essa
história. Guardo-a na esperança de que um dia chegue o momento certo e avanço
com outro projeto que eu acredite que é o ideal para o momento.
AB - O Pequenos Milagres teve um grande sucesso em Portugal
entrando na lista do Instituto Português de Cinema dos top 10 filmes portugueses
com mais sucesso de bilheteria. Além disso, foi vencedor de vários prêmios em
festivais internacionais de cinema. O que acha que despertou tanto interesse do
público no filme?
FF - É sempre um mistério as razões porque um filme tem muito
sucesso. Às vezes é uma questão de sorte, outras uma questão de excelente
marketing e outras porque ser o filme certo na hora certa. No caso de Pequenos
Milagres acho que foi um pouco o filme certo na hora certa. Portugal está a
viver momentos de crise muito grave. O filme transmite uma mensagem muito
positiva de esperança e muita gente estava precisando assistir a um filme
assim, com personagens em situações de desespero, mas que acabam por conquistar
um destino digno de orgulho. Em 2004 eu fiz outro filme que se chama Sorte Nula
e que também entrou para a lista dos top 10 filmes portugueses com mais
sucesso. Os tempos eram outros, ainda não se sentia a crise e o filme é
totalmente diferente. É um filme cheio de intriga e suspense. Se tivesse
estreado agora acho que não tinha resultado tão bom como o Pequenos Milagres.
Como não tive orçamento para fazer uma grande campanha de marketing em nenhum
dos meus filmes, eu quero acreditar que foi um pouco de sorte, mas também
porque o publico gostou muito de ambos os filmes e passou a palavra. Caso o
filme fosse fraco, a palavra se espalha rapidamente e o filme não duraria muito
tempo nos cinemas.
AB - Você tem algum novo projeto em vista? Se sim, pode contar-nos
um pouco sobre ele?
FF - Não posso dizer muito porque nem eu sei. Tenho vários roteiros que gostaria de filmar, mas nunca consigo arranjar financiamento para aqueles que mais gosto, portanto, veremos o que o futuro reserva.
FF - Não posso dizer muito porque nem eu sei. Tenho vários roteiros que gostaria de filmar, mas nunca consigo arranjar financiamento para aqueles que mais gosto, portanto, veremos o que o futuro reserva.
Um comentário:
Muito boa a entrevista. Gostei muito. Abraços!
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