"My
character's undefined? That's absurd! I know who I am. I'm
theeee....I'm the guy! The protagonist, the hero"
...
Fim
das férias, então?
Nada melhor do que voltar a ativa falando
sobre o Oscar, o maior prêmio do cinema mundial, a entrega da
gloriosa e imponente estatueta dourada, concedida apenas àqueles
heróis, cujas obras ficarão na história do cinema e na imaginação
do povo para todo sempre, certo?
Heh... De minha parte, nunca
gostei muito da premiação. Na verdade, não dou muita bola mesmo.
Um crítico cinematográfico que se preze deveria estar a par de tudo
isso, mas eu não tenho a presunção de me dar qualquer préstimo.
E
ainda tem gente que lê o que eu escrevo...
Très bien, ao
invés de me dobrar à mídia e assistir um dos filmes por eles
indicados (mentira, deu preguiça de ir atrás), eu escolhi um dos
dois indicados que eu já havia assistido. Uma animação. Do
caralho.
E, para justificar minha escolha e meu ponto de
vista, devo dizer que meu pai tem uma extensa coleção de gibis de
faroeste. Eu cresci lendo as incríveis histórias de cowboys
cavalgando pelas pradarias. Heróis miseráveis, rústicos e
austeros, que ostentavam um admirável código de honra e conduta. E
faziam-lhe valer com dois Colts na cintura e um Winchester em
punho.
Minha escolha, assim sendo, é Rango. O filme
carrega o nome do protagonista, um herói inteligente, insano e
adepto de uma boa verborragia – como alguns dos melhores heróis
que conheço – que lembra os trejeitos de seu dublador, Johnny
Depp. Rango é um camaleão que vive em um aquário, com um peixe de
brinquedo, uma barata e meia boneca. Até que tudo isso cai de uma
camionete em movimento e se espatifa no asfalto da highway que leva à
Las Vegas.
A queda é uma cena interessante, com uma ponta dos
protagonistas do excelente “Medo e Delírio em Las Vegas” –
sobre o qual ainda vou escrever aqui – que passam por essa mesma
estrada, no seu grande conversível vermelho, cheio de drogas. Aliás,
Rango lembra um pouco Hunter Thompson, o protagonista de “Medo e
Delírio”.
O filme segue, Rango vai parar em uma cidade no
meio do deserto, que sofre com problemas de abastecimento de água e
o assédio de bandidos. Uma escancarada paródia dos antigos westerns
que fizeram parte da infância de muita gente, com direito a sotaques
sensacionais (recomendo assistir legendado), uma bela dama (nem
tanto), duelos ao meio dia, grandes parceiros, pistoleiros, ladrões,
trapaceiros, charlatões e canalhas de toda espécie.
Além
disso, é carregado de referencias a diversas outras produções de
outros gêneros. Por exemplo, tem uma cena de perseguição aérea,
regida pela épica Cavalgada das Valquírias, que remete à Star Wars
e Apocalypse Now de uma pegada só. Rola, também, uma em que Rango
percebe a si mesmo em um deserto extremamente branco. A situação e
as atitudes do lagarto nesse lugar lembram muito do capitão Jack
Sparrow, quando preso no “Fim do Mundo” pelo temível Davy
Jones.
Pode-se dizer, enfim, que o filme se parece muito com
seu protagonista. Ambos não possuem uma identidade própria ou uma
personalidade definida, sem que isso seja um defeito.
Contudo,
todo esse êxtase de piadas inteligentes, insanidade, e referencias
geniais divide o tempo da película com certos momentos, tiradas e
trejeitos um tanto cansativos e exagerados. Gore Verbinski, o diretor
– o mesmo de Piratas do Caribe – não conseguiu alcançar o
equilíbrio perfeito e alguns trechos esparsos no filme te fazer
desejar que ele acabe logo. E a maioria dos personagens é
malditamente feia!
Ainda assim, é uma bela obra, uma
admirável homenagem aos grandes do faroeste que mereceria a
estatueta. Mas não acredito que vá ganhá-la, sua formula é
diferente, de um jeito que eu não acho que o Oscar vá apreciar
devidamente.
Enfim, recomendo de verdade,
principalmente se você cresceu acompanhando as aventuras destes
grandes homens, como Clint Eastwood, John Wayne e Tex Willer. E
as corujinhas mariachis são fodas.
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