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Um filme que tornou-se a atualização de um movimento do cinema francês no Brasil. Nunca havia pensado que fosse possível transcender a Nouvelle Vague as periferias do Brasil. Sem as sátiras sobre o consumismo e sobre o sistema, "Antônia" lançado em 2009. foi um projeto que se deu melhor na TV brasileira (minissérie da Globo exibida em 2009) como audiência do que no cinema.
Não levo muito em conta a bilheteria pelo baixos índices que a maioria dos filmes brasileiros atualmente sofrem nos cinemas nacionais. Mas a estrutura da minissérie consegue agradar o espectador por mostrar esse aspecto clean das telenovelas. Enquanto o filme de Tata Amaral é mais voltado a essa estética de um cinema vanguardista francês, com travelings de mão, grandes tomadas em plano sequência, olhares diretos para a câmera, técnicas adotadas pelo conhecido cinema direto, com raízes na estética vanguardista. Portanto existem duas obras dentro do projeto de Tata Amaral, um é comercial fornecido para o mercado televisivo, enquanto temos o manifesto mais vanguardista demonstrado pela liberdade da autora afimando uma obra com o tom mais poético.
Uma das cenas de "Antônia" em que a personagem "Preta" interpretada pela cantora Negra-Li, aparece no palco, semelhante ao final do filme "O Acossado" (1959, Jean Luc Godard) em que a personagem Patricia Franchinni (Jean Seberg esse é um nome feminino para o alivio de todos) fala direto para a câmera sobre suas tramas e sentimentos na história. Porém em "Antônia" Negra-Li sobe ao palco par cantar sozinha em frente a uma plateia. Esse manifesto de periferia e urbano, não é mais um contraponto mais um meio de mostrar como as influências da diretora transparece sobre a obra.
A história escolhida em "Antônia" de um modo mais geral não tem nenhuma ligação direta com as obras famosas da Nouvelle Vague ou do cinema godarniano. Até os diálogos se tornam pouco comuns entre esses períodos, mas uma coisa mesmo que o cinema de Godard seja mais intelectual, temos a mesma impressão da naturalidade adotada por Tata Amaral, que consegue habilitar a gíria, a sonoridade quase que de forma artesanal para os ouvidos do espectador, isso é um ponto de exigência para um filme que se apoia na arte das palavras com o rap.
E possível entender que não foi apenas Tata Amaral que teve suas raízes aprofundadas nesse movimento artístico do cinema francês, pois os autores do cinema novo foram embebedados dessa fonte. Mas talvez Tata Amaral foi quem conseguiu se aproximar mais desta técnica, não por usar da mesma estética de Godard, mas também por extrair o ponto forte do movimento, voltado a essa importância com o social (pobres, ladrões, grupos marginalizados) e adaptar ao modelo de anti-machismo fortalecendo os personagens femininos, muito bem interpretados no filme. Como prova de conhecimento deixo o link da entrevista de Tata Amaral no programa "Provocações" da TV Cultura.
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