A Sala 36
Sérgio Bianchi |
No dia 04 de
abril estive sobre uma dúvida cruel entre voltar para casa e assistir alguns dos
meus filmes preferidos, ou viajar até o Campus de Uvaranas (entenda que
literalmente é longe a região onde moro do Campus de Uvaranas da UEPG), com o
objetivo de assistir os filmes de um artista nascido em Ponta Grossa com
exibição pública. Enquanto mantive essa dúvida de repente me deparei na sala
36 no bloco de Artes Visuais da Universidade Estadual de Ponta Grossa, para
assistir uma sessão de curtas metragens de Sérgio Bianchi. Então entrei numa
sala de 40 lugares com apenas 6 cadeiras ocupadas até o inicio da sessão. Desculpe ao leitor por expor sobre minha relação com a sala de cinema sei que
não é digno expor sobre essa situação no entanto não é por descaso, mas apenas uma apropriação da cena. Estive triste momentaneamente por estar em uma sala tão grande vendo
filmes tão restrito ao público local, não sei se há explicação para a falta de comparecimento mas realmente o pessoal da
organização está de parabéns por trazer está coleção de um artista
nascido na cidade.
Quero declarar
minhas sinceras desculpas, ao nosso leitor por não escrever sobre um cineasta
paranaense e com tantas páginas a se falar e tanto para se apreciar. Declaro que
através desta crítica tentarei me redimir comentando sobre suas obras e estilos do multiartista do audiovisual, Sérgio Bianchi.
"Segunda Besta" |
Amostra teve apresentação de 3 curtas: Omnibus (1972) ; Segunda Besta (1977) ;
Divina Previdência (1983); e um média metragem, Mato Eles? (1982). Obras raras
do cenário nacional, os dois primeiros curtas foram realizados enquanto Bianchi estava
no curso de Audiovisual da Escola de Comunicações e Artes de São Paulo (ECA –
USP). Nos dois primeiros curtas percebe-se uma aproximação com a Nouvelle Vague*, até pelo período em que
o Brasil vivia no Cinema Novo. Nesse momento há criação de uma corrente de
cinema autor, muito distante do que a crítica identificou nos filmes de Bianchi
como “Raiva Lúcida”, até por suas obras ele deve não ser enquadro em nenhuma
corrente quanto temos um artista mais multifacetado e que usa de diversas
correntes para expor suas ideias. Voltando aos curtas metragens temos obras
realizadas em película P&B** iguais a maior parte dos filmes da Nouvelle Vague, e todos os planos feitos à mão e com alguns momentos
em que o ator olha diretamente para a câmera em “Omnibus” e “Segunda Besta”. Também nesses
curtas não há nenhuma fala dos atores em cena apenas uma trilha sonora para
despertar uma nova sensação no espectador. As imagens voltam-se, a uma estética
provocativa e dramática.
Curta Metragem - "Divina Previdência" |
No terceiro
curta apresentado “Divina Previdência” tem talvez uma evolução da produção
cinematográfica de Sergio Bianchi com um filme que demonstra toda a sua fase da
“Raiva Lúcida”, porém quebra essa linearidade do cinema-autor, ao começar pela
realização em película colorida e com mais cenas de humor com um final metalinguístico cinematográfico onde o personagem principal, Antonio José da
Silva suicida-se na cadeira de uma sala de cinema enquanto os atores do filme da sessão conversam
com ele. Bianchi sempre foi um cineasta muito elogiado pela crítica nacional no
último filme apresentado na sessão do dia 04, “Mato Eles?” é um vídeo
documentário sobre as tribos indígenas do sudoeste do Paraná e a extração de
madeira na região. Este último vídeo em especial está muito próximo dos
documentários experimentais realizados pela Casa de Cinema de Porto Alegre nos
anos 90.
Documentário - "Mato Elles" |
Mesmo anterior
aos documentários da Casa de Cinema de Porto Alegre, Bianchi trabalha as cenas
com certa dose de humor mesclando ficção com documentário, o que foi uma
tendência nos últimos documentários apresentados no XXV Festival Internacional
de Documentários de Amsterdã ***. A técnica mesclada de Bianchi também pode
estar relacionada com a região onde nasceu, pois os Campos Gerais foi
identificado por Darci Ribeiro**** como a linha de convergência entre o Brasil
Caipira e o Brasil Sulista *****. Então através da obra apresentada vemos a
proximidade de Bianchi com circuito do Cinema Novo com Glauber Rocha, Cacá
Diegues e Arnaldo Jabor e também do Cinema Experimental sulista com Carlos Reichenbach
e a Casa de Cinema de Porto Alegre. Mais que um cineasta, Bianchi ainda e o
maior artista multifacetado dessa mistura conhecida como Brasil.
* Movimento
artístico cinematográfico francês da década de 60, entre seus principais
autores estão Jean Luc-Godard, François Truffaut e Robert Bresson.
** Película em preto-branco.
*** O IDFA (International Documentary Film Festival Amsterdam), maior festival de documentário do mundo e completou 25 anos em 2012.
**** Antropólogo, escritor e político brasileiro.
***** "O Povo Brasileiro" obra de Darci Ribeiro, que explora as
formações sociais e culturais no Brasil. Disponível em vídeo no Youtube ou em livro.