
“Precisamos Falar Sobre o Kevin”
é um filme baseado no livro, de mesmo nome, da escritora Lionel Schriver. Ela
estudou vários casos de assassinato em massa dentro de colégios e universidades
norte-americanas e decidiu escrever uma ficção com uma perspectiva diferente: a
visão da mãe do assassino. Eva é uma mulher de 40 anos, que reexamina a sua
trajetória em busca dos motivos que podem ter transformado seu filho, Kevin,
num assassino. Em longas e detalhadas cartas ao pai do menino, ela analisa o
próprio casamento, o impacto da maternidade sobre sua vida e momentos
significativos da infância de Kevin. Seu relato é escandalosamente sincero,
pontuado por confissões como a de um dia ter parado no meio da rua, diante das
britadeiras de uma construção, e fechado os olhos de prazer ao notar que as
máquinas encobriam o som do choro incessante de seu bebê, recém-nascido.

Em nenhum momento ela quis a
criança. Até no parto ela resistia e nos momentos que a criança grita, ela
também quer gritar. Quando Eva vai ao médico para ver se o filho tem algum
problema mental ou físico, a espera é que ele tenha algo que justifique o seu
comportamento. Para ela seria um alívio saber que o modelo de criação foi
correto. Seria um consolo ter o diagnóstico que Kevin, simplesmente, nasceu
assim.
O uso de flashbacks durante todo
o filme consegue alinhar, perfeitamente, memórias da vida em família com a
situação atual de Eva. Um exemplo é quando ela tira as cascas de ovo da boca e
ao mesmo tempo passa as lembranças das pessoas que o filho assassinou. Este
jogo de cenas mostra, mais uma vez, a tentativa de Eva se libertar da culpa e
juntar os pedaços de sua vida.
“Precisamos Falar Sobre o Kevin”
não é um drama comum. Ele chama os espectadores para refletir sobre as mães dos
Kevins da vida real. Tilda Swinton consegue chamar a atenção para isto de uma
forma que não retrate Eva como um monstro e sim como uma pessoa que sofreu uma
tragédia e não sabe como reagir. O incrível John C. Reilly prova ser a
escolha perfeita para viver o permissivo pai de Kevin. Um exemplo é quando,
após Eva tratar Kevin grosseiramente, o filho passa a ter mais respeito pela
mãe. Diferente do carinho exagerado do pai, o qual achava que Eva não
sabia dar o devido afeto ao filho. Ezra Muller (que encarna o Kevin adolescente)
compensa os excessos do roteiro adaptado com uma atuação contida, como pede o
tom do livro de Schriver.
A fala de Kevin na penitenciária
provoca uma discussão sobre o modo de educar os filhos, “Você sabe como treinar
gatos? Enfiam o nariz dele na própria merda, eles não gostam, assim acabam
usando a caixa”. Será que esta é a maneira correta? Pode ser, porém o que é
estabelecido no filme é o debate deste assunto tão velado e pouco discutido da
forma como Schriver soube elucidar.
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